sábado, 6 de setembro de 2014

Ao ter o olhar posto no que falta,
perco-me do que há.
A insatisfação não vem  
pelo que o presente me dá,
vem por desejar o que não há.

Por 24 horas não vou lutar para que 
o mundo se amolde aos meus desejos.

Essa atitude ajudar-me-á a mudar a percepção:
o que considero mau agora é bom
e o bom...é ainda melhor!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

 competência de prontidão

Li ou ouvi, certa vez, esta história que muito vem a calhar para se refletir sobre a competência de prontidão, que faz com que possamos estar prontos para ir muito além dos limites de nossa função.
Conta-se que a grande atriz Cacilda Becker( os mais jovens por aí , não a tenham visto em nossos palcos.Podem fazer uma pesquisa), certa vez, estava em cartaz em uma peça junto com o não menos lendário Sérgio Cardoso.
O personagem de Sérgio só entrava em cena no meio do terceiro ato. Então, Sérgio só costumava chegar ao teatro no intervalo entre o primeiro e o segundo atos.
No dia em que este fato se deu, Sérgio , surpreendentemente, não chegou. Houve certo alvoroço,mas Cacilda , a todos tranqüilizou, afirmando que decerto o atraso se devia a algum contratempo.
No segundo intervalo, o pânico imperava nos bastidores.Sérgio não chegara.
Cacilda , imperturbável, disse que se Sérgio não chegasse até 2 minutos antes de seu personagem entrar em cena , mandassem alguém vestido de mensageiro entregar-lhe um hipotético telegrama. Seria seu sinal. E que no momento de Sérgio dizer a sua primeira fala , fizessem tocar a campainha do telefone que havia em cena.E que deixassem o restante com ela.
Como Sérgio não chegou afinal, assim foi feito.
Cacilda , a grande atriz, sabia toda as falas de personagem com o qual o seu próprio contracenava.E as disse , repetindo-as como se as ouvisse de um interlocutor ao telefone , sob os olhares atônitos e incrédulos de todos.
Cacilda em estado de prontidão salvou o espetáculo.
Foi aplaudida por mais de 15 minutos de pé.Mereceu.

Quantos de nós estamos prontos? Quantos de nós sabemos além de nosso papel?
Quantos de nós estamos prontos pra salvar o espetáculo em nossas vidas , em nossas empresas, em nossas universidades?
Estar pronto é tarefa de uma vida. Se faz passo a passo, linha a linha, verso a verso .Com vontade. Com paixão.
Os aplausos chegam , claros , em muitas formas e cores. Depois de  uma história  como esta,  só me resta  deixá-los com uma  epígrafe  à altura.


Divino Maravilhoso
Caetano Veloso

Atenção ao dobrar uma esquina
Uma alegria, atenção menina
Você vem, quantos anos você tem?
Atenção, precisa ter olhos firmes
Pra este sol, para esta escuridão
Atenção
Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte (2x)
Atenção para a estrofe e pro refrão
Pro palavrão, para a palavra de ordem
Atenção para o samba exaltação
Atenção
Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte (2x)
Atenção para as janelas no alto
Atenção ao pisar o asfalto, o mangue
Atenção para o sangue sobre o chão
Atenção
Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte

O caminho do TAO


"O caminho do Tao não é o da iluminação repentina... Tao é crescimento gradual. 
O Tao não acredita em mudanças repentinas e abruptas. O Tao acredita em respeitar o ritmo da existência, permitindo que as coisas aconteçam por elas mesmas, sem forçar o seu caminho, sem forçar o curso do rio. 

O Tao diz: não há necessidade de estar com pressa porque a eternidade está disponível para você. Plante as sementes no tempo certo e espere; a primavera virá; ela sempre vem. E quando a primavera vier, as flores aparecerão. Mas espere, não tenha pressa.

... Existe grande paciência na natureza e o Tao acredita no caminho da natureza. 'Tao' significa exatamente natureza. Assim o Tao nunca está com pressa; isto tem que ser entendido.

O ensinamento fundamental do Tao é: aprenda a ser paciente. Se você puder esperar infinitamente, a iluminação pode mesmo acontecer instantaneamente. Mas você não deve pedir para que ela aconteça instantaneamente: se você pedir, pode ser que nunca aconteça. 

O seu próprio pedido se tornará um obstáculo. O seu próprio desejo criará uma distância entre você e a natureza. Permaneça em sintonia com a natureza, deixe que a natureza tenha o seu próprio curso... Mesmo que ela demore séculos para chegar, ainda assim ela não está atrasada; ela nunca está atrasada. Ela sempre chega no momento certo. 

O Tao acredita que tudo acontece quando é necessário; quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece. Quando o discípulo está finalmente pronto, Deus aparece. O seu valor, o seu vazio, a sua receptividade, a sua passividade tornam isto possível; não a sua pressa, não a sua correria, não a sua atitude agressiva. Lembre-se: a verdade não pode ser conquistada. É preciso entregar-se à verdade, é preciso ser conquistado pela verdade. 

Mas toda a nossa educação, em todos os países, ao longo dos séculos tem sido de agressividade e de ambição. Nós tornamos as pessoas muito rápidas. Nós as tornamos muito medrosas. Nós lhe dizemos: 'tempo é dinheiro e é muito precioso. Se o tempo for perdido uma vez, ele ficará perdido para sempre, por isso corra; tenha pressa'. Isto tem levado as pessoas à loucura. Elas correm de um ponto a outro; elas nunca curtem lugar algum.... E elas pensam que estão indo a algum outro lugar...

O Tao é o caminho da natureza, do jeito que as árvores crescem e os rios correm e os pássaros e as crianças... exatamente do mesmo jeito crescemos para Deus. 
Não tenha pressa e não se desespere. Se você fracassar hoje, não perca as esperanças. Se você fracassar hoje, isto é natural. Se você continuar fracassando por alguns dias, isto é natural. 

As pessoas têm tanto medo de fracassar que, devido a este medo, nunca arriscam fazer tentativas. Existem muitas pessoas que nunca se apaixonaram porque elas têm medo. Quem sabe? Elas podem ser rejeitadas, por isso elas decidiram permanecer sem amar, assim ninguém jamais as rejeitará. 

As pessoas têm tanto medo de fracassar que elas nunca tentam qualquer coisa nova. Quem sabe? Se elas fracassarem, o que poderá ocorrer? E naturalmente, para se movimentar no mundo interior, você terá que fracassar muitas vezes, porque você nunca se movimentou ali antes. 

Toda a sua habilidade e eficiência têm sido nos movimentos externos, na extroversão. Você não sabe como se movimentar internamente. As pessoas escutam as palavras 'movimente-se internamente, vá para dentro', mas isso não faz muito sentido para elas. 

Tudo o que elas sabem é como ir para fora, é como ir para o outro. Elas não conhecem qualquer caminho de volta para si mesmas. Por causa dos seus velhos hábitos, é muito provável que você fracasse muitas vezes. Não perca as esperanças. 

A maturidade chega vagarosamente. É certo que ela chega, mas isto leva um tempo. E lembre-se: para cada pessoa ela chegará num ritmo diferente, por isso não compare, não comece a pensar: 'alguém está se tornando tão silencioso, e tão feliz, e eu ainda não alcancei isto. O que está acontecendo comigo'?

Não se compare com quem quer que seja, porque cada um viveu de uma maneira diferente em suas vidas passadas. Mesmo nesta vida, as pessoas têm vivido diferentemente.

Assim, tudo depende de suas habilidades, de sua mente, de seu condicionamento, de sua educação, da religião na qual você foi criado, dos livros que tem lido, das pessoas com as quais tem vivido, da vibração que criou dentro de si mesmo. 

Tudo dependerá de mil e uma coisas, mas é certo que ela chegará. Tudo que se precisa é paciência, trabalho silencioso, trabalho paciente e o centramento acontece e a maturidade chega. 

Na verdade, a pessoa madura e a pessoa centrada são apenas dois aspectos de um mesmo fenômeno... Com a maturidade, o centramento surge. Maturidade e centramento são dois nomes para uma mesma coisa. Mas a primeira coisa a ser lembrada é que ela chega gradualmente. Não compare e não tenha pressa."



Fonte: OSHO - The Secret of Secrets.

quarta-feira, 16 de abril de 2014



A Raposa e o Pequeno Príncipe

E foi então que apareceu a raposa:

- Boa dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.

quinta-feira, 13 de março de 2014

DOIS MONGES ATRAVESSAVAM UM RIO QUANDO VIRAM UMA MOÇA.
APESAR DOS VOTOS DE NÃO TOCAREM EM MULHERES, UM DELES A CARREGOU DURANTE A TRAVESSIA.
QUANDO CHEGARAM AO DESTINO, O OUTRO MONGE QUE NÃO CARREGOU A MOÇA, MUITO BRAVO, DISSE:
VOCÊ CARREGOU AQUELA MOÇA!
NO QUE (ENQUANTO) O OUTRO RESPONDEU: 
É, MAS EU A DEIXEI LÁ E VOCÊ AINDA ESTÁ COM ELA AÍ EM SEU PENSAMENTO.
CONTINUA CARREGANDO, EU ABRO MÃO.

EU ABRO MÃO

QUANDO ABRO AS MÃOS, NELAS CABEM O UNIVERSO.
QUANDO SEGURAMOS ALGO, NÓS NOS LIMITAMOS.

E, ÀS VEZES SEGURAMOS A DOR, O SOFRIMENTO.

História contada por um monge budista

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O ESTUDO DE SI

O homem, em seu estado atual, está muito longe do "Conhece-te a ti mesmo". Estritamente falando, a meta do homem não pode ser o conhecimento de si. Sua Grande Mesta deve ser o "Estudo de si". O estudo de si é o trabalho ou a via que o conduzirá ao conhecimento de si.

Porém, para estudar-se a si mesmo é necessário, antes de tudo, que aprenda "como" estudar, por onde começar, que meios utilizar. Um homem precisa aprender "como" estudar-se a si mesmo e tem de estudar os métodos do estudo de si.

O método fundamental para o estudo de si é a "Observação de si". Sem uma observação corretamente conduzida o homem não compreenderá jamais as conexões e as correspondências das diversas funções de sua máquina; não compreenderá jamais como e nem porque nele tudo sucede (nota: ele não é o agente, as coisas acontecem para ele).

Porém a aprendizagem dos métodos corretos de observação de si, e do estudo de si, requer um compreensão precisa das funções e das características da máquina humana. É necessário compreende-las em suas divisões e poder defini-las corretamente — definição que não deve ser verbal, e sim, interior, pelo sabor, pela sensação, da mesma maneira como nos definimos para nós mesmos o que experimentamos interiormente.

Existem dois métodos de observação de si: a analise, ou a tentativa de análise ou tentativa de encontrar respostas para as perguntas "de que depende tal coisa e por que acontece?" e o segundo métodos é o das constatações, que consiste em somente registrar, em gravar na mente, no mesmo momento, tudo o que se observa.

"A possível evolução do homem", de P.D.Ouspensky
“Geralmente isso não resulta de timidez ou de introversão, mas de um excesso de raciocínio, de um esforço exagerado no " sentido de ser simpática e de uma falta de ação por impulso. A alma selvagem sabe quando e como agir, se ao menos a mulher lhe der atenção. A reação correta contém percepção acrescida de quantidades adequadas de compaixão e de força. O instinto prejudicado deve ser restaurado através da aplicação e imposição de limites definidos e da prática de respostas firmes e, quando possível, generosas, mas mesmo assim sólidas.”

CLARISSA PINKOLA ESTÉS – MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS
TÊNIS X FRESCOBOL
Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele:
Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: "Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?". Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.
Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra – é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo, eu te amo...". Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, 'eu te amo' não quer dizer mais nada". É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma".
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: "Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo". A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: "Tens razão, minha querida". A situação está salva e o ódio vai aumentando.
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...


Rubem Alves