terça-feira, 19 de maio de 2009

Trecho do livro : Mulheres que correm com os Lobos




"Na história de La Loba, a velha no deserto é uma recolhedora de ossos.


Na simbologia arquetípica, os ossos representam a força indestrutível.


Eles não se prestam a uma fácil redução.


Por sua estrutura, é difícil queimá-los e praticamente impossível pulverizá-los.


Nos mitos e nas histórias, eles representam alma / espírito indestrutível.


A alma / espírito pode ser ferida, e até mesmo mutilada, mas é quase impossível eliminá-la.


La Loba é a guardiã da alma.


Sem ela, perdemos nossa forma; os seres humanos ficam desalmados, ou sua alma fica perdida.


As pessoas fazem meditação para conseguirem um equilíbrio psíquico.


É por isso que se faz psicoterapia e análise.



É para isso que os seres humanos analisam seus sonhos e criam arte.



É por isso que muitos consultam o tarô, o I Ching, dançam, batucam, fazem teatro, arrancam poemas das entranhas e criam a oração iluminada.




TRATA-SE DE REUNIR TODOS OS OSSOS.




Algumas perguntas:


O que aconteceu com a voz da minha alma?




Quais são os ossos enterrados na minha vida?




Em que condições está meu relacionamento com o Self instintivo?




Quando foi a última vez que corri livremente?




Como posso fazer com que a vida volte a ter vida?




Para onde foi La Loba?




À medida que derramamos a alma, somos revitalizadas.




Não somos mais uma solução fraca, algo de frágil, que se dissolve.




Não!




Estamos no estágio da transformação em que estamos


"nos tornando".



Nós quase sempre começamos num deserto.


Temos uma sensação de perda de direitos, de alienação...


O deserto é um lugar em que a vida se apresenta muito condensada.


As raízes das plantas se agarram à última gota de água, e as flores armazenam umidade abrindo apenas de manhã cedo e ao final da tarde.


A vida que acontece no deserto é pequena porém brilhante, e quase tudo que acontece tem lugar no subsolo.


Semelhante à vida de muitas mulheres.


Ele é muito intenso e misterioso nas suas formas de vida.


Muitas de nós vivem vidas desérticas: ínfimas na superfície e imensas por baixo.


Algumas mulheres não querem estar no deserto psíquico.


Elas detestam a fragilidade e a escassez.


Não seja tola.


Volte, pare debaixo daquela única flor vermelha e siga em frente percorrendo aquele último e árduo quilômetro.


Aproxime-se e bata à porta castigada pelas intempéries .


Suba até a caverna.


Atravesse engatinhando a janela de um sonho.


Peneire o deserto e veja o que encontra.


Essa é a única tarefa que temos de cumprir.




Vá recolher os ossos".

2 comentários:

  1. A melhor coisa da vida é estar sempre se tornando, sem nunca ser, pois assim sempre aprenderemos com o deserto.
    Beijinhos

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  2. Esse livro é muito simbólico e rico. Adorei a passagem postada e a riqueza de seu blog.
    Um abraço

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